Tuesday, April 28, 2009

Sinédoque, Nova Iorque

Sinédoque, Nova Iorque

Diretor teatral monta uma peça de proporções gigantescas baseada em sua própria vida conturbada.

(Synecdoche, New York.) EUA, 2008. Direção: Charlie Kaufman. Elenco: Philip Seymour Hoffman, Catherine Keener, Michelle Williams. Sinopse: Duração: 124 min.


Rafinha

Considero Charlie Kaufman um dos mais talentosos roteiristas da atualidade. Pra quem não lembra, ele escreveu os roteiros de Quero ser John Malkovich, Natureza quase humana, Confissões de uma mente perigosa – que até hoje não me perdôo por ter perdido a oportunidade de comprar por 12,90 -, Adaptação, Brilho eterno de uma mente sem lembranças, e agora Sinédoque, Nova Iorque, que também foi dirigido e produzido por ele.

Já disse antes que filmes com temática surreal e nonsense despertam meu interesse na hora, muito graças à Kaufman pois seus roteiros sempre são ótimos. Suas parcerias com Spike Jonze e Michel Gondry sempre rendem trabalhos interessantíssimos. Tá, eu babo ovo mesmo.

Sinédoque, Nova Iorque é um filme mais pesado que os anteriores. Por exemplo, em Brilho eterno a sensação que fica quando o filme acaba é boa, em Sinédoque não. Não que o filme seja ruim, mas o tema – morte, velhice – me sensibiliza mais e me faz pensar em coisas que eu não quero pensar, muito menos nessa fase de minha vida.

Começando pelo título, Sinédoque é uma figura de linguagem usada quando se usa uma parte para falar do todo e vice-versa.

Caden – o fantástico Philip Seymour Hoffman - é um melancólico diretor de teatro que é abandonado pela mulher e pela filha. Ao receber uma doação de uma grande quantidade de dinheiro para usar em um novo projeto, ele começa a criar e montar a peça de sua vida. A peça é, basicamente, um pedaço da cidade de Nova Iorque construído, literalmente, dentro de um galpão gigantesco, onde as pessoas encenam dia e noite. Milhares de pessoas. A peça é, afinal, a vida de Caden. Ficção e realidade começam a se misturar, pessoas são contratadas para interpretar Caden e as pessoas que estão ao seu lado. Parece um pouco confuso, mas ao assistir com atenção, as coisas se encaixam. Taí a tal da sinédoque.

No final, um dos atores faz um discurso muito bonito sobre como somos miseráveis e ninguém se importa, porque afinal todos tem suas tristezas para lidar.
Charlie Kaufman sempre vale a pena, é o que eu digo.


M.


Estamos na temporada de assistir filmes sobre tempo, doença, velhice, sanidade, morte e essas coisas que causam distúrbios na minha mente. Todos sabemos que todos morrem um dia, mas isso fica numa perspectiva totalmente diferente quando você de fato dedica um tempo para pensar, sem nenhuma muleta metafísica, que você vai morrer um dia. Não que esteja reclamando de ter tais pensamentos, porque acho que sou até um eu melhor quando estou em tal estado, mas que é pesado, é.

“Synecdoche, New York” é mais um filme de Charlie Kaufman que me conquistou. Kaufman está cada vez mais ganhando seu lugar entre meus roteiristas prediletos. O filme narra a história de Caden Cotard, um diretor de teatro que vive uma vida angustiada (e talvez hipocondríaca) e que, após receber uma enorme verba como prêmio, resolve criar uma peça que seja uma grande obra, um contributo para a humanidade. Philip Seymour Hoffman, que o interpreta, realiza um trabalho sensacional.

A narrativa do filme é coerentemente confusa, com uma linha do tempo e noção da realidade que permitem que você sinta o que vive o protagonista. Esta, aliás, outra das temáticas do filme: o fato de sermos protagonistas das nossas vidas.

É o típico filme que sei que, se houvesse assistido numa sala do circuito comercial, pelo menos 50% dos 20 espectadores que estivessem presentes na sessão teriam saído antes do final. Acredito que essa definição é mais do que suficiente para destacar a qualidade sensível do filme, que felizmente assisti no conforto do meu lar, com todo o silêncio reflexivo que me era necessário.


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